Wednesday, October 17, 2007

Futebol jovem e realidade social - violência



Em contacto com o futebol jovem tem-se percepções tão diferenciadas que nos fazem reflectir sobre a sociedade, muito mais que o futebol.
A intolerância é presença contínua! Vejo jovens de nove/dez anos a não conseguirem controlar os seus ímpetos mais violentos, as suas respostas primárias, perante acções levadas a cabo sobre si. Incomoda-me ver em equipas de escolinhas os jovens a maltratarem-se como adversários num campo de batalha. Porém isso é um retracto social, pois não é o futebol que desponta tais actos, é a sociedade, o meio que influencia o Homem.
Os jovens não conseguem perdoar facilmente, é-lhes mais fácil ripostar e agredir, física ou verbalmente, o seu colega. Mas o que leva ao surgimento desta violência? Que ensinamentos lhes são incutidos? De que forma pensam sobre as suas acções?
Futebol violento? E a sociedade não o é? Quem provoca a violência é o homem, como tal o homem não é divisível, ou seja, não agride no futebol e abraça na escola ou local de trabalho!
Educar urge! Educar urge na escola, educar urge no futebol, educar urge em qualquer local onde esteja presente a espécie humana!
O futebol é um fragmento fruto da sociedade, logo há que educar/reeducar para que a sociedade não se torne ou não continue a ser um local de guerra constante!
Como é possível ver um atleta jovem agredir verbalmente um colega ou adversário? Ou discriminar pela tez da pele ou capacidade futebolística? E o respeito, a compreensão, a solidariedade? De que forma são incutidos estes valores para não se avistarem?
Não basta incutir valores na teoria, à que agir, teorizar e praticar. É necessário ser o exemplo para as crianças, caso contrário a sociedade toma caminhos distanciados da boa moral e costumes.
Como mensagem final deixo a minha esperança de que quem trabalha com crianças procure transmitir valores desportivos como a solidariedade, o respeito, a humildade, o trabalho, o sacrifício, a ambição, a tolerância, o trabalho de equipa e tantos outros valores necessários para a construção de um Mundo melhor perante a minha visão. Antes de uma boa classificação procure a plena e saudável construção!

Monday, July 16, 2007

Avaliação contínua


O processo de desenvolvimento do atleta é ininterrupto. Desde ao início da prática até ao seu término, o atleta passa por várias alterações evolutivas, atravessando, por vezes, fases muito sensíveis a nível pessoal.
Desde à infância, à puberdade e à estabilização como adulto, o futebol acompanha muitos dos jovens. É o ponto de referência do indivíduo que o segue na sua maturação. Sendo assim, é conveniente existir técnicos especializados que possam trabalhar com todas as fases destes jovens, tornando-os “seres de facto”.
No decorrer da evolução há fases em que esta se dá de forma mais evidente e acelerada do que em outras. É o ciclo natural evolutivo. Como tal torna-se aconselhável implementar sistemas de avaliação que permitam aferir o padrão evolutivo do jogador, acompanhando-o em todas as suas fases de desenvolvimento.
Relatório individual é a forma de acompanhar tal evolução. Tal resolução só poderá ser implementada se contemplar os factores mais importantes no jogador. Deveria então constar factores como a evolução mental/emocional, física, biológica, técnica.
Para existir exactidão as avaliações deveriam ser feitas ciclicamente, constatando a evolução do atleta ao longo de determinado espaço de tempo.
A avaliação mental/emocional poderia ser feita através de testes simples sobre comportamentos e atitudes, que descreveriam traços gerais da personalidade de cada jogador. Outra forma passaria por avaliar comportamentos práticos dos atletas durante treinos ou competições, aferindo os seus sentimentos e atitudes.
A nível físico, avaliar-se-ia o seu crescimento a nível de estatura, peso, índice de massa gorda, densidade muscular, entre outros testes relativos ao desenvolvimento físico do atleta.
Biologicamente testar-se-ia o seu nível de maturação hormonal entre outros factores relevantes.
No nível técnico seriam postos à prova as suas habilidades futebolísticas tanto a nível de coordenação motora, destreza, eficiência e maturação táctica, sendo que tais avaliações seriam feitas tanto em treinos como em competição.
Talvez são ideias a amadurecer, mas de certo que com tais informações seria mais acessível traçar planos de treinos mais rigorosos e específicos para o nível de evolução dos atletas. Ter-se-ia, também, um plano geral de evolução do jogador que conferia se os treinos levados a cabo estavam a ser rentabilizados e eficientes, ou se, por outro lado, se deveria adaptar uma nova metodologia.
Avaliação contínua, pois o processo evolutivo é, sem dúvida, ininterrupto!

Friday, June 29, 2007

A importância do Sonho!


Presenciamos, actualmente, uma sociedade sem sonhos, uma sociedade de objectivos muito semelhantes, mas sem uma ambição altruísta e moral, ambições egocêntricas onde os meios para alcançar os fins não interessam, e onde, após o alcançar do objectivo, há apenas uma satisfação momentânea, não há felicidade efectiva.
Quem lê esta introdução pensa que, não se relaciona com o futebol e seus contornos, mas a pedagogia é a peça basilar da formação de qualquer jogador, mas mais que tudo de qualquer Homem.
É importante que desde a entrada do jovem no percurso formativo desportivo lhe sejam incutidos meios para este alcançar os seus objectivos, mas mais que isso devem-lhes ser transmitidos traços gerais que o levam a idealizar um percurso, traços que o levem a ser feliz conquistando o seu sonho.
Quem tem o direito de dizer que ele não pode vir a ser um grande jogador de futebol? Quem lhe poderá dizer para esquecer o futebol e dedicar-se a outra actividade? Quem retira prematuramente os sonhos aos jovens, não tem a noção que pode estar a retirar uma das maiores motivações intrínsecas existentes, a luta pelo sonho. Pode estar a deformar um Homem, porque não acreditará que pode quer no desporto, quer na vida alcançar os seus grandes sonhos.
Se um jovem tem uma noção de felicidade, de grande objectivo a atingir, deixem-no sonhar, deixem que o sonho o guie, ajudem-no e aconselhem-no. Vão-lhe mostrando as suas capacidades, dando-lhe a realidade em conjunto com a ambição. Não defendo que se deve mentir, também concordo que se o apoiarmos incondicionalmente e se ele não atingir o objectivo a perda e transtorno será maior, mas será que não foi feliz enquanto lutou? Será que o sonho não o manteve vivo na verdadeira ascensão da palavra? O que vemos hoje são pessoas sem sonhos, mas mais que isso sem grande esperança, com sorrisos parcos, vivendo sem grande aproveitamento dos pequenos prazeres da vida.
É verdade o desporto é vida, por isso comparo a formação do atleta com a vida social, porque ambas se complementam e estão interligadas.
Quando um jovem de onze anos diz que quer ser o melhor jogador, porque não apoia-lo? Dessa forma damos-lhe alento para o trabalho, motivando-o, incutindo a perseverança, a luta pelos objectivos independentemente dos percalços. Dêem-lhes tempo para adquirirem maior noção da sua realidade, lembrem-lhes que há a escola e que nem tudo se cinge ao futebol, motivem-nos para actividades várias, para que se o sonho não se realizar ele já tenha opções para traçar novos rumos, para voltar a se levantar e voltar a traçar novos sonhos, porque não actividades paralelas ao futebol, formar-se e integrar de uma forma diferente o mundo futebolístico.
Transmitam-lhes que está nas mãos deles a forma de serem felizes, que nada nem ninguém os pode impedir se eles não o deixarem. Digam-lhes que se é isso que querem, lutem por isso, esforcem-se e perseverem, correndo a grande etapa da vida com um sorriso e com uma chama acesa à qual chamamos motivação.
Resumindo apoiem o sonho dos jovens, mais que isso, incutam-lhes o sonho, deixem-nos voar, mas não se esqueçam de moderar o voo deles, dando-lhes conselhos, alertando-os, deixando-os eles próprios enfrentarem os problemas ganhando resistência para novos obstáculos e dêem-lhes sempre mais que duas rampas de lançamento para o sonho, para que caso um falhe exista outro que pode muito bem ser alcançado, ou seja, formação no futebol e formação escolar, ambos de braços dados, ambos sustentados, porque o sonho pode-se moldar à realidade, por isso deixem-nos voar, Sonhem!

Wednesday, June 27, 2007

Competição em paralelo com formação: Prós e Contras


É um ponto que, se para muitos é um dogma, para outros continua a ser um centro de questão e debate.
Actualmente, a competição existente na formação de futebol tem “contornos” de competição de adultos, ou seja, jovens em fase evolutiva, lutam para subir, para não descer, para seguir à próxima fase e para vencer campeonatos nacionais.
Isto é apenas um reflexo social, pois se estivermos atentos vemos que estamos numa sociedade cada vez mais competitiva, com mais ânsia de vencer, não olhando a meios para chegar aos fins, uma sociedade que não contempla a vida, não dá espaço ao pensamento profundo, é a sociedade onde quem não é stressado é que está fora do “normal”. Com tanta competitividade não sobra espaço para ter momentos de relaxamento e formação sustentada, criticando o que está mal, ou revertendo a necessidade de ir contra as regras para justificar a vitória.
Urge formar os jovens correctamente, com tempo, com bases sólidas, incutindo valores morais, porque ao formar “hoje” melhor os jovens, vamos ter uma melhor sociedade “amanhã”. É a mais simples verdade, mas que a muitos incomoda ou não lhes convém que assim seja.
Voltando à formação dos jovens futebolistas, a competição é vista por dois grandes grupos, os que são a favor do actual sistema competitivo implementado e, por outro lado, os que defendem somente a formação pedagógica, sem um grande nível competitivo.
Os que argumentam a tese da competição actual têm como premissa a necessidade dos jovens se adaptarem à competição, vivenciando desde cedo o que são as “leis” do futebol, a lei do vencer e não perder e que se não tiverem uma competição real e efectiva não se prepararão para o futuro.
Os que têm a tese de formação pedagógica sem grande competição, argumentam que a pressão exercida sobre treinadores e jogadores é de tal forma grande que leva ao abandono prematuro de jogadores, e a uma evolução não correcta.
Eu tenho uma opinião própria, na realidade uma mescla comparativamente aos dois grandes pólos de discussão.
A competição tem que ser equilibrada, não pode exercer uma grande pressão sobre os jogadores e técnicos. Porquê? Devido ao facto de que ao estar pressionado o técnico vai optar por colocar os jogadores mais capazes no momento contrariando a teoria de que na formação deve-se dar oportunidade aos que têm maior potencial e não aos que estão mais aptos no momento, pois isso levará à desmotivação dos jovens potenciais não regularmente utilizados, não ganharão experiência de jogo e com o tempo poderá levar ao abandono da prática da modalidade. Mesmo para os próprios jogadores a pressão de descer de divisão, impedirá que estejam mais relaxados para no jogo evoluírem e explanarem a sua criatividade e perícia, restringindo ao jogo táctico e muito disputado. A nível do treino o treinador não terá tempo para explorar alguns aspectos pertinentes a nível de evolução efectiva do jogador, como a técnica e aperfeiçoamento e treinará e valorizará em grande escala, desde cedo, as funções físicas e fisiológicas do jogador e a exaustão táctica. Outro factor importante que é subjugado sistematicamente por esta competitividade é o factor moral. Deixa-se de parte a construção da personalidade sã dos jogadores, para valorizar em demasia a vitória, não olhando a meios para atingir os fins, o que pode tornar o jovem um Homem menos íntegro, se este não souber filtrar a informação e tiver consciência plena do bem e do mal.
Por outro lado não concebo uma evolução sólida de um jogador sem alguma competitividade, pois não saberá lidar com a ansiedade e responsabilidade e poderá negligenciar o treino, ou seja, despreocupar-se-á de trabalhar em plenas condições pois sabe que não tem grande responsabilidade. A presença de competição é um factor fundamental para a evolução sustentada do jovem.
A grande questão está em activar mecanismos que permitam a remodelação do sistema vigente de competição na formação. Não é saudável uma competição acabar para os clubes que não passam à segunda fase, terminando assim a época prematuramente, sensivelmente em Abril ou Maio, se não mais cedo. Mas o pior é que esses clubes sessão quase que instantaneamente a actividade, ficando os jovens, que necessitam de treino, sem treinar durante quatro meses, por vezes.
Uma hipótese é fazer campeonatos mais prolongados, ou por outro lado competições e torneios amigáveis regionais, de forma a promover a continuidade do funcionamento das equipas. Quanto ao nível competitivo dever-se-á escutar treinadores, dirigentes desportivos, pedagogos, recursos humanos com suporte científico e prático na área de futebol de forma a proceder a uma remodelação salutar do quadro competitivo na área do futebol de formação.

Monday, June 25, 2007

A captação de jovens e separação do seu “mundo”


Antigamente a captação de jovens para os grandes clubes acontecia com jogadores de quinze/dezasseis anos que se instalavam em albergues do clube, procedendo a partir daí à sua especialização futebolística.
A evolução da indústria do futebol e consequente contratação de jovens talentos levaram os clubes a inflacionarem-nos e, assim, neste mercado tão competitivo e com jogadores muito novos a valerem já grandes somas, o futuro está na captação de talentos ainda na sua fase primária de formação, com oito, nove e dez anos.
Enquanto, que, anteriormente, os clubes competiam pelos melhores jogadores séniores, agora competem pelos melhores talentos potenciais, numa “guerra” desenfreada que põem em causa a evolução dessas jovens promessas.
Os clubes alargam a sua captação por todo o país e estrangeiro procurando os que têm maior potencial, os que pensam que a médio prazo vão poder ser rentabilizados.
Neste nível é também dizer que cabe a Portugal e seus clubes terem a função de formação pois como é sabido os clubes não têm capacidade financeira e devem-se centrar na formação de talentos e aposta neles para depois rentabilizar os investimentos, ou seja, vende-los aos poderosos clubes europeus.
Retomando o assunto captação, recentemente assistiu-se a uma disputa por uma jovem promessa de oito anos! Benfica e Sporting disputaram “taco a taco” a contratação deste jovem jogador. O Benfica foi quem primeiro contactou o jovem e seus pais, levou a criança ao estádio, apresentou-lhe os jogadores da equipa principal e acordou amigavelmente com os pais que quando fosse altura ideal o jogador seguiria para Lisboa. Porém o Sporting entrou na corrida, apresentou um pré-acordo aos pais do jogador e estes assinaram, sendo que neste momento a criança passou a ser “propriedade” do Sporting que dentro de algum tempo o levará para a Academia.
As abordagens foram diferentes e a do Sporting levou a melhor, talvez devido ao seu historial de aposta nos jovens, talvez por outro qualquer motivo. Não é essa a questão que vou debater.
Fala-se de contratações, abordagens, pré-acordos, dinheiro, futebol e no meio disto onde está a criança de “apenas” oito anos? O que sentirá esta no meio de tanta concentração em seu redor?
Pois bem tenho algumas ideias quanto a isso. Com oito anos o facto de o estar a restringir a uma modalidade só por si já é alarmante. É certo que há jovens que começam com cinco e seis anos no futebol, mas depois mais tarde o que se vê? Jovens que têm algumas discrepâncias a nível evolutivo, ou seja, tem grandes grupos musculares super desenvolvidos e outros não compensados, têm capacidades super desenvolvidas e outras descompensadas. Mas com acompanhamento devido poder-se-á prevenir essas descompensações.
Contudo a criança não deve ter um grande grupo de vivências que lhe permite ter um leque de experiências e conhecimentos que lhe permitem ultrapassar de uma melhor forma os problemas e ser mais crítico e sabedor? A diversidade desportiva deve ser tida em conta pela criança e por quem a tutela.
Ao especificar a criança ao futebol a partir dos dez/onze anos com vários treinos semanais e com grande carga horária lectiva onde sobra o espaço para ela brincar? Para falhar e corrigir? Para descobrir o mundo que o rodeia? A consequência é brincadeira nos treinos ou brincadeira nas aulas e depois não se podem queixar os professores e treinadores, porque apesar de futebolista e estudantes ele ainda continua a ser uma criança em formação e desenvolvimento que tem todo o direito de viver com a alegria própria da infância.
Dizem que tem de optar muito jovem, ou jogas futebol e te responsabilizas ou vai para outro clube que te dê mais liberdade. Sem dúvida que se optar por ter treinos intensivos irá ter maiores probabilidades de ser um grande jogador, mas também não terá tanto tempo para se formar intelectualmente, aprender a ter suficiência para ultrapassar os problemas, aprender a distinguir o correcto do incorrecto, ter a liberdade de ir ao parque, ao jardim, ao rio e desfrutar da vida natural.
O jovem que é encaminhado de cedo para os clubes e são mantidos nas academias perdem cedo a ligação com os pais e eu pergunto até que ponto isso não pode interferir com a formação mental/emocional do jovem. Onde estarão as suas referências afectivas? Quem lhes dará conselhos sobre os namoros, os estudos, os amigos? Podem dizer que a criança se torna independente mais cedo mas será verdade? Até que ponto o seu grau emocional não será afectado? Saberá com doze anos pensar que tem de estudar porque o futebol não lhe poderá trazer benefícios e terá de ter uma formação académica para ter uma vida estável? Uma criança de doze anos que se vê com todas as regalias e a jogar futebol terá predisposição para estudar e ter um grande grau académico? Os que chegam com sucesso à ribalta do futebol não necessitam se calhar tanto dessa formação académica mas e onde ficam todos os jogadores que não chegaram aos grandes palcos futebolísticos? Possivelmente ficarão sem estudos e sem futebol, ou seja, terão de repensar a sua estratégia pessoal? E aqueles jogadores que não seguiram mais os estudos e que conseguiram jogar futebol em clubes medianos até ao limite etário? Será que vão ter resguardo financeiro para suportar o resto da sua vida, sabendo que a esperança média de vida continua a aumentar? Pois é o centro da questão leva-me a pensar, será conveniente cortar abruptamente a ligação pais-filhos e levar a criança cedo para as academias? Será conveniente especificar a criança para o futebol e deixar-lhe a ponderação sobre a sua continuidade nos estudos? Podem argumentar que em alguns clubes “obrigam” os jogadores a estudar e a frequentarem a escola, mas pergunto se isso é efectivo, se verdadeiramente os encorajam a se formarem e continuarem os estudos, se lhes dão condições horárias para isso…Um jovem que por vezes tem treinos bidiários terá capacidade mental e emocional para ainda ir estudar? O futebol formação e captação tem muito a ponderar, porque não estamos só a lidar com jogadores, estamos sim a lidar com jovens ser humanos que estão em processo de crescimento biológico e mental e que necessitam de todo o acompanhamento possível para discernirem convenientemente o que será realmente importante para a sua vida futura.

Friday, June 22, 2007

Potencialidade e Paciência v.s. Rendimento Momentâneo e Impaciência


Todos diferentes, todos iguais! Uma frase muito celebre, reconhecido nos direitos humanos, mas que pode ser muito bem aplicada no “mundo” complexo da formação de jogadores.
Desde que nascemos até morrermos, temos diferentes etapas evolutivas, mentalmente, fisicamente e biologicamente.
Há médias estipuladas para cada fase, ou seja, em determinada faixa etária a média é ter a determinada altura, peso, massa corporal, mentalidade entre tantos outros factores.
Porém todos têm o seu nível de desenvolvimento. Uns têm um desenvolvimento precoce, outros crescem dentro da média e, por fim, alguns demoram mais algum tempo a se desenvolver.
No futebol a pressão competitiva afecta, desde de tenra idade, os jogadores, assim como os treinadores. A muitos responsáveis técnicos são exigidos resultados competitivos, ou seja, contempla-se a vitória e a classificação e menospreza-se o desenvolvimento dos atletas.
Assim, o jovem que tem um desenvolvimento físico e biológico precoce tem maiores probabilidades de jogar pois é mais forte, mais rápido, mais ágil, mais potente, mais capaz. Estão mais desenvolvidos e aptos a vencer, correspondendo assim aos objectivos dos treinadores, a vitória.
No meio deste processo há muitos que ficam para trás, os jogadores com menor desenvolvimento momentâneo, os que naquele momento não correspondem ao exigido a nível físico. Desta forma, não adquirem ritmo competitivo, desmotivam-se chegando mesmo ao ponto de ponderarem a desistência.
É de relembrar que no final da etapa evolutiva, a maioria dos jovens estabilizam, ficam com o mesmo tamanho e peso uns dos outros e, só nessa fase, se contempla as capacidades técnico/tácticas.
Nessa fase já pode ter sido tarde para os que tiveram um desenvolvimento mais moroso. Nesta fase os que tinham a início um grande porte atlético são muitas vezes excluídos da competição. Porquê? Porque enquanto se distinguiam pelo físico jogavam e com a competição evoluíam, mas depois todos os outros chegaram ao seu nível de desenvolvimento e, nessa fase, já não tem tantos argumentos que o distingam.
Não estou a menorizar a capacidade dos mais altos ou mais fortes, estou apenas a defender que não se deve olhar tanto para o desenvolvimento momentâneo, mas olhar sim para o potencial. Os mais baixos e menos desenvolvidos, podem ter grande qualidade potencial, porém como não são explorados, perdem as primeiras fases de evolução competitiva o que diminui a sua possibilidade de explanação potencial. Se o treinador tiver paciência e esperar a sua evolução a nível físico e o colocar regularmente a competir, vai evoluir e se desmarcar dos outros não pelo tamanho mas sim pela qualidade.
Se antes estava só a falar de tamanho, falo agora de potencial. Os treinadores põem a jogar os mais aptos naquele momento, mas poderá haver aqui uma questão. Há atletas que se desenvolvem muito rapidamente a nível técnico/táctico e assim levam vantagem sobre os outros, porém estes que se desenvolveram tão cedo vão estagnar possivelmente mais rapidamente, ou então, só irão evoluir a nível de maturação de jogo. Enquanto isso há outros com maior potencial, mas que demoram mais algum tempo a explanar o seu nível técnico/táctico.
O segredo está em não optar pelo mais apto no momento, mas fazer uma distinção de potencial, ou seja, captar os que maior potencial têm e dar-lhes tempo e oportunidade para se desenvolverem, pois, mais cedo ou mais tarde, vão-se adaptar e conseguir praticar a um grande nível.
Dever-se-á fazer uma equipa mesclada entre jogadores mais evoluídos e os com mais potencialidade, para que a médio prazo se tenha um grupo de jogadores com grandes capacidades pois tiveram oportunidade de evoluir mesmo que o seu nível de evolução fosse mais moroso.
Como mensagem final, digo que se deverá procurar o potencial inato e dar mais valor à evolução do jogador a médio/longo prazo, do que ao resultado momentâneo, pois se ele evoluir correctamente, quando for mais maduro, estará então mais apto e capaz a ser um grande valor a nível futebolístico.

Wednesday, June 20, 2007

O “tacto” pedagogo dos treinadores de formação


Em formação, o treinador não se deve limitar a ser um mero “artesão” de jogadores. Em muitos clubes continua-se a assistir aos treinadores de formação que lidam com os jovens como se esses fossem adultos, ou pior, são de tamanho autoritarismo que não escutam os seus atletas, não os acompanham, não conhecem realmente os jovens com quem lida, preferindo “apenas” assistir ao desenvolvimento, ao rendimento e à vitória. Se não rende, o jogador não é eleito para jogar, se não evolui não joga, se tem culpa num lance ou faz um mau jogo, no próximo poderá já não ter lugar.
Não se preocupam em procurar causas, não têm um diálogo com o jogador que possa sondá-lo e perceber os seus receios, ambições e sonhos.
Também há os treinadores que com a obsessão da vitória, utilizam o jogador necessário passando por regras de consciência, injustiçando jogadores, usando e abusando da boa vontade dos atletas, não olhando para o potencial futuro, mas para o rendimento momentâneo.
Obviamente nem todos os treinadores de formação têm estes defeitos, mas ainda se assiste regularmente a estes casos, que são “trágicos” para o futebol. Porém mesmo este tipo de treinadores têm qualidades, só que não são específicos para a formação de jovens.
Começando nas escolinhas, cabe ao treinador dar uma formação ao nível do desenvolvimento motor e técnico da criança. Simultaneamente deve formar-lhes a personalidade de uma forma correcta, incutindo valores essenciais como os de trabalho em equipa, sacrifício, ambição, trabalho contínuo, confiança, perseverança, dedicação, lealdade, respeito, tolerância e honestidade.
É nesta faixa etária que se criam os “suportes básicos” do atleta, mas mais que isso, do Homem, que tem uma vida quotidiana e que deve transportar os bons valores desportivos para a escola, para casa, para onde quer que vá!
Se o jovem adquirir todos estes valores mais facilmente evoluirá, no plano futebolístico pois trabalhará para obter melhores resultados, saberá lidar com os problemas e terá capacidades de socialização. Todos estes valores também serão importantes para na escola ter motivação para trabalhar e obter uma boa formação curricular. É da competência do treinador alertar os jogadores para o trabalho escolar, para a sua formação académica, pois se como jogadores não alcançarem grandes resultados, como alunos irão ter recursos para ter uma vida estável.
O treinador deve dialogar regularmente com os jovens, escutando os seus pensamentos, tanto no futebol como na vida “normal”. Tem de ser um amigo no timing certo, mas deverá ter o distanciamento necessário para não perder a “chefia” de treinador, pois os treinadores demasiado permissivos acabam por ser tão brandos que não auxiliam os jogadores na sua formação.
Também é da incumbência do treinador aproximar os pais do futebol, não permitindo porém que estes se tornem obstáculos, pois há pais que se “intrometem” em demasia no funcionamento de uma equipa, “exigindo” determinadas acções do treinador e do seu filho.
O treinador deverá dialogar com os pais no sentido de estes acompanharem os filhos nos jogos, apoiando-os, motivando-os. Atenção! Deverão os pais serem alertados para não darem indicações aos seus filhos pois isso perturbará o discernimento e recepção de informação do jovem que em campo só deverá ouvir os conselhos do seu treinador.
Devem sim apoiar o filho, aplaudir mesmo que erre, no jogo. Em casa devem falar sobre o jogo, reflectirem sobre o que esteve bem e mal e deixar o filho encontrar a solução para resolver o seu problema. Também podem nos tempos livres ir passear com o filho e jogarem descomplexadamente facultando um desenvolvimento técnico espontâneo.
O treinador deve então instruir os pais, mas também deverá estar receptivo a aconselhamentos e deverá procurar informar os pais da maneira que tem trabalhado, a finalidade, os objectivos a cumprir, para que estejam mais atentos e sensibilizados ao percurso formativo do filho e para que percebam as atitudes do treinador.
A acção do treinador deve corresponder ao que este incute, ou seja, se ele incute coerência e ambição, as suas acções devem corresponder à teoria, pois, caso contrário, provocará efeitos possivelmente danosos na formação do jovem.
A formação técnica e mental do jogador deve numa fase inicial ser a prioridade do treinador, se possível, a isto, deve aliar vitórias que corresponde à ambição e habituação a ganhar, sendo que nas derrotas deve retirar a ilação e junto com os jogadores procurarem discutir a causa e resolve-la.
O atleta tem de ser formado segundo regras específicas, é preciso ter cuidado para não formar mal o jovem, pois isso terá repercussões nocivas à sociedade, pois um mau desportista a nível de valores será provavelmente um Homem de igual categoria.
Desta forma a regra geral é sensibilidade, moldando da correcta forma os jovens, tendo paciência, persistindo e não desistindo deles, pois o que hoje parece difícil amanhã poderá resultar. Formar Grandes Homens e Grandes Atletas, num único ser!